«Quando medito na pequena duração da minha vida, absorvida na eternidade que precede e na que segue, o pequeno espaço que preencho e mesmo que vejo, abismado na infinita imensidão dos espaços que ignoro e que me ignoram, assusto-me e admiro-me de me ver aqui, e não ali, pois não há razão nenhuma para estar aqui, e não ali. Porquê no presente, e não noutro tempo? Quem me pôs aqui? Por ordem e acção de quem este lugar e este tempo me foram destinados, a mim? Memoria hospiti unius diei praetereuntis (Lembrança de um hóspede de um dia que passa. Sabedoria)».
«O silêncio eterno destes espaços infinitos apavora-me».
«Apenas vejo infinidades de todos os lados, que me envolvem como um átomo e como uma sombra que dura apenas um instante e nunca mais volta. Tudo quanto sei é que em breve devo morrer, mas o que mais ignoro é esta morte que não poderei evitar».
Estas palavras de Pascal, tão existenciais, tiveram um enorme impacto sobre a filosofia de Heidegger, que viu no homem (Dasein) um «ser-para-a-morte» e na morte certa um estímulo para sair do mundo da tagarelice e adoptar um modo de vida autêntico.
Pena é que muitos portugueses não se apercebam que a morte como acontecimento certo constitui um convite para levar uma vida mais serena e mais autêntica, longe das intrigas e das tagarelices quotidianas, que afastam os homens da sua verdadeira tarefa neste mundo: viver num mundo comum que nos antecede e que continuará a existir mesmo depois de morrermos.
J Francisco Saraiva de Sousa
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