Não pretendo escrever um manifesto contra os auto-intitulados «históricos» da blogosfera portuguesa, mas desmistificar a sua ideologia metabolicamente reduzida, que, em termos políticos, é uma «velha senhora» já nossa conhecida.
Seguiremos três vias selvagens que não serão elaboradas exaustivamente e com o rigor filosófico que merecem:
1) Os auto-intitulados históricos não fazem ideia do que significa «história». Os verdadeiros fazedores de história digital criaram as novas tecnologias da comunicação que todos usamos e disponibilizaram os instrumentos e serviços necessários que nos possibilitam ter acesso a determinados serviços e sem custos significativos. Apesar do carácter empresarial destas iniciativas americanas, a verdade é que elas abriram-se a todos, à escala do mundo global, e podem ser usadas para a defesa da democracia contra as forças obscurantistas das trevas e do mal. A Internet é efectivamente um meio democrático, porque, ao contrário doutros meios de comunicação social (TV, rádio, jornais), possibilita uma diálogo, pondo termo ao modelo unidireccional de comunicação. Ora, os «históricos» são meros utentes desses serviços disponibilizados pelas grandes empresas da comunicação, mas são utentes que desejam colonizar artificialmente esses serviços, de modo a impor uma comunicação processual que rouba o acesso à palavra por parte dos outros utentes reduzidos a «leitores». Encaram os seus blogues como «feudos» e, como não conseguem acompanhar o sentido das inovações tecnológicas, criam «confederações» de bloguistas, cujo objectivo é colonizar a chamada «web social» e tentar bloquear a visibilidade dos outros bloguistas portugueses, que usam estas funcionalidades para outros objectivos mais nobres e libertos da preservação de uma vida metabolicamente reduzida. Se na América se fala na «tirania da maioria» (Alexis de Tocqueville), em Portugal podemos falar na «tirania da minoria»: meia dúzia de pessoas tenta desesperadamente silenciar a voz dos cidadãos portugueses, como se fossem os seus porta-vozes definitivos. Ora, a Internet abre as portas a todos e deita abaixo todos os muros. Pela primeira vez na história, todos os mortais têm acesso à palavra e podem participar na esfera pública, sem mediações corrompidas que nunca representaram as verdadeiras aspirações dos portugueses. Contra esse colonialismo blogosférico, lutaremos até vencer. Queremos democracia real e não uma esfera pública online refeudalizada e colonialista!
2) Tal como fazem os funcionários públicos ameaçados pelas reformas excelentes iniciadas por este governo, os «históricos» defendem um suposto «direito adquirido», que só existe nas suas cabeças. Eles não fazem história, até porque não têm conhecimentos suficientes para captar o sentido das novas tecnologias ou o sentido da sua história: bloqueiam ou tentam bloquear a história democrática e matar a inocência do devir! «Direitos adquiridos» na blogosfera constituem um atentado contra a democracia online e a sua defesa corporativista é simplesmente blogofascismo. Mas o sentido desta «acção» é previamente conhecido: os «históricos» não querem partilhar aquilo que não lhes pertence. A blogosfera não lhes pertence e, portanto, não têm «direitos adquiridos». E, se alguma lei protegesse esses supostos direitos, teríamos de lutar contra ela, tal como os revolucionários da Revolução Francesa ou da Revolução Americana lutaram pela libertação. Aquilo que eles temem é a concorrência e a própria democracia. Com efeito, para eles, «democracia» significa confiscar a palavra dos outros: «Eu escrevo, tu lês...». Todas as tiranias são insuportáveis, mas a tirania da mediocridade é a mais terrível de todas.
3) Os «históricos» pretendem subverter o sentido das palavras e usam certos termos num sentido metabolicamente reduzido. Um desses termos é o de info-exclusão ou mesmo o de info-analfabetismo. Afirmam que a maioria dos utilizadores da Internet usa o computador como «máquina de escrever» e acusam certos bloguistas de não cuidarem da «imagem» dos seus blogues. Eles pretendem ser info-informados, os outros são info-analfabetos. O que eles não percebem é que os pejorativamente chamados «leitores» interessam-se mais pelo conteúdo e pela sua qualidade do que pelas «embalagens», repletas de publicidade e citações desvirtuadas, dos blogues. A info-exclusão é um conceito sociológico e, portanto, político, que se combate nas escolas e com o acesso de todos às novas tecnologias da informação e comunicação.
É evidente que esta crítica não se dirige a todos os bloguistas portugueses, cujos nomes merecem figurar na história da blogosfera portuguesa, mas somente àqueles que pretendem monopolizar, refeudalizar ou colonizar a blogosfera, chamando-lhe Web Social, de resto pensada à dimensão do cérebro de LILLI. Prevejo que a sociedade do futuro irá dispensar o jornalismo medíocre e a chamada «opinião pública» e, se isso suceder, representará mais uma vitória da Democracia participativa. J Francisco Saraiva de Sousa
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