sexta-feira, 26 de outubro de 2007

Hobbes e o Ateísmo Político

Materialismo científico, mecanicismo, positivismo: a filosofia de Thomas Hobbes (1588-1679) é estruturalmente racionalista e anti-aristotélica, que destaca o poder mediador da linguagem em detrimento das ideias inatas.
A filosofia de Hobbes é, acima de tudo, uma filosofia do poder. Hobbes seculariza o poder e demonstra, não a sua majestade, mas a sua utilidade na conservação do indivíduo. Mas não é a concepção hobbesiana do poder político e a tese da soberania absoluta que pretendemos destacar, mas a sua recusa em recorrer ao sobrenatural.
De facto, com a excepção dos estudos de Ferdinand Tönnies, Leo Strauss, Max Horkheimer e Quentin Skinner, a maior parte dos leitores da obra de Hobbes concentra-se numa única obra, «Leviatã» (1651), sobretudo nas partes sobre o poder (Segunda Parte/ Do Estado), negligenciando as outras (Primeira Parte/ Do Homem, Terceira Parte/ Do Estado Cristão) e desprezando a Quarta Parte/ Do Reino das Trevas. Além desta obra de enorme racionalidade política e científica, Hobbes escreveu outras que não devem ser esquecidas: «Elementos do Direito» (1640), «Do Cidadão» (1642), «Da Natureza Humana», «Corpo Político» e, por fim, «Tratado do Homem».
A Quarta Parte do «Leviatã», Do Reino das Trevas, é extremamente actual: «O reino das trevas (...) nada mais é do que uma confederação de impostores, que para obterem o domínio sobre os homens neste mundo presente, tentam por meio de escuras e erróneas doutrinas, extinguir neles a luz, quer da natureza, quer do Evangelho, e deste modo desprepará-los para a vinda do reino de Deus». Nesta quarta parte do seu tratado, Hobbes denuncia a demonologia, os exorcismos, o medo do Diabo e o proveito que daí tira o clero. Para Hobbes, é a ansiedade humana que se encontra na origem da religião: «O temor de um poder invisível, quer seja uma ficção do espírito ou o imaginemos segundo tradições admitidas publicamente, é isso a religião».
A filosofia de Hobbes assume corajosamente uma tarefa terapêutica, centrada sobretudo sobre a linguagem e a crítica racional das imagens fantasmas: libertar os homens dos «fantasmas do cérebro» e do temor: «Fica assim manifesto que não há nem pode haver qualquer imagem de uma coisa invisível». E, por isso, pode ser lida como um manifesto de ateísmo político.
Hobbes ocupa um lugar de destaque na nossa tradição crítica. Como escreve Horkheimer: «Como surgiram estes extraordinários erros, porque se mantêm? Assim se coloca, em princípio, o problema da ideologia, apenas abordado com métodos suficientes no período pós-hegeliano. De resto, a resposta de Hobbes e dos seus seguidores, já apontada por Maquiavel, é muito simples: todas as ideias que se afastam da teoria exacta da natureza humana e não-humana, foram inventadas por pessoas que pretendem dominar outras. No cerne de todas estas ideias está a argúcia e a mentira. A sua causa primeira é, por um lado, a sede do poder e, por outro, uma precária formação; o seu fim é a manutenção do poder daqueles que a propagam».
A filosofia racionalista de Hobbes oferece-nos um conjunto de conceitos que permitem denunciar os abusos da democracia e as práticas dos luso-corruptos, que procuram mergulhar Portugal no obscurantismo. Os luso-corruptos dizem mentiras hipocritamente com uma consciência endurecida, de modo a manterem e perpetuarem o seu medíocre domínio.
J Francisco Saraiva de Sousa

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