Hannah Arendt é insuspeita em matéria de filosofia política e na avaliação que faz do contributo político de Marx. Na sua obra «On Revolution», H. Arendt escreveu: «O enorme impacte das articulações e conceitos de Marx sobre o rumo da revolução é incontestável e embora seja tentador, relativamente ao absurdo escolástico do marxismo do século XX, atribuir esta influência aos elementos ideológicos na obra de Marx, pode ser mais exacto argumentar no sentido inverso e imputar a influência perniciosa do marxismo às muitas descobertas originais e autênticas feitas por Marx. Seja como for, não há dúvida de que o jovem Marx veio a convencer-se de que a razão pela qual a Revolução Francesa não conseguira encontrar a liberdade fora a de ter falhado na resolução da questão social. Daí ele ter concluído que liberdade e pobreza eram incompatíveis. A sua mais explosiva e certamente mais original contribuição para a causa da revolução foi o facto de ele ter interpretado as prementes necessidades da pobreza de massa em termos políticos como uma sublevação, não por uma questão de pão ou de saúde, mas também por uma questão de liberdade. A conclusão que ele tirou da Revolução Francesa foi a de que a pobreza pode ser uma força de primeira ordem». Hannah Arendt tem um lugar especial na filosofia política e deve ser lida pelos socialistas e sociais-democratas genuínos, como mais uma pensadora de uma política radical. Ela nunca foi uma crítica do marxismo, nem sequer do marxismo-leninismo, e possibilita uma releitura de Marx numa época em que a pobreza se tornou novamente visível, releitura esta que o salvaguarda das mentiras ditas pelos cardeais já referidos. O marxismo é uma filosofia política da pobreza. Liberdade e pobreza não são compatíveis. Lutar contra a pobreza é lutar pela liberdade e lutar pela liberdade é lutar contra a pobreza material e mental. J Francisco Saraiva de Sousa
5 comentários:
A pobreza deve ser usada como arma política para desalojar os poderes instituídos. A democracia exige a abolição da pobreza, não por via burocrática, mas por via revolucionária.
Estou a preparar novos posts.
E, logo que possa, edito os meus comentários sobre o pograma da RTP1 «Prós e Contras», o anterior dedicado à Guerra do Ultramar, de resto pouco instrutivo, devido à falta de conhecimento da situação real de Angola, Moçambique e Guiné-Bissau, e este próximo sobre pobreza.
Além disso, vou aprofundar mais a minha perspectiva sobre a blogosfera portuguesa e denunciar os seus «tubarões», a democracia participativa e a democracia electrónica.
O programa «Prós e Contras» de hoje (22 de Outubro de 2007), dedicado à pobreza, foi muito pardacento, com excepção da última intervenção que desmistificou as «boas intenções» das obras de caridade.
De facto, elas não captaram a essência da pobreza e as suas raízes sociais e económicas profundas, limitando a sua acção a atenuar os efeitos da pobreza, mas sem resolver o problema da pobreza, e garantir a visibilidade metabolicamente reduzida dos seus responsáveis. A pobreza não é um problema técnico-burocrático, mas um fenómeno social total, para usar este termo de Marcel Mauss, que deve ser compreendido em todos os seus níveis de expressão e de manifestação, para que a luta pela sua eliminação total possa ser bem sucedida, sem criar dependentes como sucede com a acção de caridade ou as políticas burocráticas. Todas criam pobres dependentes, em vez de indivíduos autónomos capazes de controlar a sua vida numa sociedade que ofereça igualdade de oportunidades e empregos.
Contudo, há algo mais na pobreza que nunca foi levado em conta: os homens são meros animais e os ritmos frenéticos e compulsivos da sociedade de consumo reduzem-nos a animais dispensáveis, mas sem os ver efectivamente como animais a quem se exigem tarefas desumanas. E, como animais, os humanos cedem as pressões de modos inadequados, esquecendo que são mortais que merecem uma vida mais digna. Uns comem demasiado, outros não comem, uns drogam-se e outros desistem da vida. A economia de mercado selvagem ameaça a vida e o planeta: um mortal não está biologicamente preparado para fazer face a todos estes desafios transhumanos e frequentemente irracionais. Todos somos potencialmente sem-abrigo, até porque a sociedade actual nos roubou o nosso abrigo mais íntimo: a dignidade.
De facto, carecemos de profetas, os portugueses e os europeus. Todos são criados a gastar dinheiro e a consumir em excesso, como se essa dimensão do consumir compulsivo, com fins de ostentação, fosse natural num mero mortal que já não sabe apreciar as obras dos heróis.
Portugal nunca terá futuro, se não se fizer nada para eliminar a sua mediocridade essencial e as suas pseudo-elites: todos somos pobres, uns mais do que outros, e todos estão sujeitos a vir a sofrer a pobreza radical: não ter um abrigo, amigos ou tostão no bolso. A vergonha de assumir as suas pobrezas não enriquece o país: Portugal sofre de diversas pobrezas e, apesar disso, entrega-se a divagações de grande riqueza. Isto é falta de inteligência!
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