Os textos que tenho publicado aqui revelam claramente que sou um adepto prudente da democracia electrónica: acredito que as comunidades virtuais podem ajudar os cidadãos a revitalizar a democracia, mediante a participação responsável na esfera pública alargada a todos e liberta da comunicação manipuladora. No entanto, sou herdeiro de uma constelação teórica que tem sido e ainda continua a ser muito crítica em relação aos efeitos da comunicação mediada por computador, mas sobretudo em relação aos media electrónicos: refiro-me evidentemente à teoria crítica e à Escola de Frankfurt. Por isso, e dado que não negligencio os seus receios legítimos, pretendo editar textos dedicados a três grupos de cépticos e analisar os seus argumentos, de modo a clarificar o próprio conceito de democracia electrónica. Acredito no potencial democratizador das telecomunicações e dos computadores e, escutando as vozes que se fazem ouvir num vasto conjunto de blogues, defendo a ideia básica de que a comunicação mediada por computador leva aos cidadãos responsáveis alguns poderes dos mass media, detidos pelos mandarins da política e da economia, reabilitando democraticamente a esfera pública. A comunicação mediada por computador é potencialmente uma tecnologia democratizante e, por isso, estou empenhado na luta contra todas as tentativas de feudalizá-la ou colonizá-la abusivamente, contra os interesses reais dos cidadãos, que o jornalismo manipulatório tenta converter em leitores-consumidores. As criticas sociais às novas tecnologias podem ser agrupadas em três frentes teóricas, intimamente relacionadas umas com as outras ou, pelo menos, complementares: a teoria da indústria cultural e a sua reformulação por Habermas (1), a teoria panóptica do poder de Michel Foucault, de resto inspirada em Jeremy Bentham e seu projecto prisional (2) e a teoria hiper-realista nas suas diversas versões, a de Guy Debord ou a de Jean Braudillard (3). Estas críticas são pertinentes e merecem ser escutadas e pensadas. Como já as meditei, ao longo de inúmeras aulas e seminários de «teorias da comunicação social», posso dizer que a comunicação mediada por computador pode ser o veículo privilegiado para a realização dos «ideais» que norteiam a crítica da sociedade. Mas, como num mundo global, nada está estabelecido definitivamente, é necessário reflectir nas ameaças sugeridas pelos restantes cépticos e estar preparado para fazer face a elas sempre que surjam no horizonte. J Francisco Saraiva de Sousa
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