O programa «Prós e Contras» de hoje (22 de Outubro de 2007), dedicado à pobreza, foi muito pardacento, com excepção da última intervenção que desmistificou as «boas intenções» das obras de caridade.
De facto, estas instituições não captaram a essência da pobreza e as suas raízes sociais e económicas profundas. A sua acção limita-se a atenuar os efeitos da pobreza, mas sem resolver o «problema da pobreza», ao mesmo tempo que garante a visibilidade metabolicamente reduzida dos seus responsáveis.
A pobreza não é um problema técnico-burocrático, mas um «fenómeno social total», para usar esta expressão de Marcel Mauss, que deve ser compreendido em todos os seus níveis de expressão e de manifestação, para que a luta pela sua eliminação total possa ser bem sucedida, sem criar dependentes como sucede com a acção de caridade ou as políticas burocráticas. Todas criam pobres dependentes, em vez de indivíduos autónomos capazes de controlar e de gerir a sua vida numa sociedade que ofereça efectivamente igualdade de oportunidades e emprego pleno.
Contudo, há algo mais na pobreza que nunca foi levado em conta: os homens são meros animais e os ritmos frenéticos e compulsivos da sociedade de consumo reduzem-nos a animais dispensáveis, mas sem os ver efectivamente como animais a quem se exigem tarefas desumanas. E, como animais, os humanos cedem inadequadamente às pressões, esquecendo que são mortais que merecem uma vida mais digna. Uns comem demasiado, outros não comem, uns drogam-se e outros desistem da vida. A economia de mercado selvagem ameaça a vida e o planeta: um mortal não está biologicamente preparado para fazer face a todos estes desafios transhumanos e frequentemente irracionais. Todos somos potencialmente sem-abrigo, até porque a sociedade actual nos roubou o nosso abrigo mais íntimo: a dignidade. De facto, como foi dito no debate, carecemos de profetas: os portugueses e os europeus. Todos os europeus são criados a gastar dinheiro e a consumir em excesso, como se essa dimensão do consumir compulsivo, com fins de ostentação (T. Veblen), fosse natural num mero mortal que já não sabe apreciar as obras dos heróis. Portugal nunca terá futuro, se não se fizer nada para eliminar a sua mediocridade essencial e as suas pseudo-elites: todos somos pobres, uns mais do que outros, e todos estamos sujeitos a sofrer a pobreza radical: não ter um abrigo, amigos ou tostão no bolso. A vergonha de assumir a pobreza não enriquece o país: Portugal sofre de diversas pobrezas e, apesar disso, entrega-se a divagações de grande riqueza. Isto é falta de inteligência!
J Francisco Saraiva de Sousa
De facto, estas instituições não captaram a essência da pobreza e as suas raízes sociais e económicas profundas. A sua acção limita-se a atenuar os efeitos da pobreza, mas sem resolver o «problema da pobreza», ao mesmo tempo que garante a visibilidade metabolicamente reduzida dos seus responsáveis.
A pobreza não é um problema técnico-burocrático, mas um «fenómeno social total», para usar esta expressão de Marcel Mauss, que deve ser compreendido em todos os seus níveis de expressão e de manifestação, para que a luta pela sua eliminação total possa ser bem sucedida, sem criar dependentes como sucede com a acção de caridade ou as políticas burocráticas. Todas criam pobres dependentes, em vez de indivíduos autónomos capazes de controlar e de gerir a sua vida numa sociedade que ofereça efectivamente igualdade de oportunidades e emprego pleno.
Contudo, há algo mais na pobreza que nunca foi levado em conta: os homens são meros animais e os ritmos frenéticos e compulsivos da sociedade de consumo reduzem-nos a animais dispensáveis, mas sem os ver efectivamente como animais a quem se exigem tarefas desumanas. E, como animais, os humanos cedem inadequadamente às pressões, esquecendo que são mortais que merecem uma vida mais digna. Uns comem demasiado, outros não comem, uns drogam-se e outros desistem da vida. A economia de mercado selvagem ameaça a vida e o planeta: um mortal não está biologicamente preparado para fazer face a todos estes desafios transhumanos e frequentemente irracionais. Todos somos potencialmente sem-abrigo, até porque a sociedade actual nos roubou o nosso abrigo mais íntimo: a dignidade. De facto, como foi dito no debate, carecemos de profetas: os portugueses e os europeus. Todos os europeus são criados a gastar dinheiro e a consumir em excesso, como se essa dimensão do consumir compulsivo, com fins de ostentação (T. Veblen), fosse natural num mero mortal que já não sabe apreciar as obras dos heróis. Portugal nunca terá futuro, se não se fizer nada para eliminar a sua mediocridade essencial e as suas pseudo-elites: todos somos pobres, uns mais do que outros, e todos estamos sujeitos a sofrer a pobreza radical: não ter um abrigo, amigos ou tostão no bolso. A vergonha de assumir a pobreza não enriquece o país: Portugal sofre de diversas pobrezas e, apesar disso, entrega-se a divagações de grande riqueza. Isto é falta de inteligência!
J Francisco Saraiva de Sousa
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