quarta-feira, 5 de março de 2008

Educação e Princípio de Responsabilidade

A filosofia de Hans Jonas (1903-1993) é claramente dirigida contra a transformação tecnocientífica da acção humana e o niilismo visto como resultado do humanismo marxista ou liberal, cuja conjugação constitui um perigo absoluto para a existência e para a essência humanas.
A sua obra fundamental, "Das Prinzip Verantwortung: Versuch einer Ethik für die technologische Zivilisation" (1979), é uma resposta crítica ao humanismo marxista de Ernst Bloch. Neste post, não pretendemos apresentar toda a filosofia de Jonas, mas tratar apenas de uma parte dessa filosofia, aquela que fundamenta um novo Princípio ou Imperativo na natureza das próprias coisas. Diante da catástrofe eminente da natureza e do homem, Jonas retoma o fundacionalismo de cariz metafísico ou mesmo teológico.

Para Jonas, o humanismo marxista de Bloch confia (cegamente) na possibilidade de modificar a condição humana e é levado a recorrer a todas as possibilidades tecnocientíficas e políticas que possam ajudar na tarefa da emancipação da humanidade das servidões da finitude. É, pois, utópico e tecnófilo. A aliança (marxista ou liberal) do humanismo e do materialismo constitui uma das fontes principais da exploração da biosfera. A democracia e a opinião pública nada podem fazer para evitar as catástrofes naturais e «sociais» e garantir o futuro da natureza e da humanidade, porque ambas são manipuláveis e não estão submetidas a princípios exteriores e superiores (moral, religião, sabedoria).
Ao contrário dos humanistas, Jonas não acredita nas virtudes da democracia representativa, da educação e do debate público, para resolver os problemas colocados pela articulação da tecnociência (Investigação e Desenvolvimento TecnoCientífico, IDTC) e do espírito niilista. A mera vontade humana (individual ou colectiva) não oferece nenhuma garantia contra o abuso e os extravios desta mesma vontade que é liberdade ilimitada. Isto significa que o homem sozinho não é capaz de assegurar o valor e a sobrevivência da humanidade. Daí que seja necessário e urgente garantir de outra maneira, independentemente dos homens e, se for necessário, contra a sua vontade, o valor e a sobrevivência do homem. Esta garantia deve ser absoluta (não dependente do desejo individual ou colectivo), teológica ou, pelo menos ontológica ou metafísica.

"O Princípio de Responsabilidade" elabora uma metafísica necessária para a fundação absoluta do valor da humanidade, tal como existiu, existe e existirá. Esta metafísica apoia-se numa concepção finalista da natureza, cuja combinação de motivos aristotélicos e evolucionistas permite destacar três ideias básicas:

1. A observação da natureza viva evidencia o desenrolar de comportamentos funcionais ou intencionais, isto é, comportamentos com finalidade. O organismo que tende a um fim outorga também valor a esse fim. Ora, visto que fins e valores estão unidos na natureza, o homem não constitui absolutamente a sua fonte.

2. Olhada no seu conjunto, a evolução mostra, com o decorrer do tempo, o aparecimento de seres vivos dotados de comportamentos finalistas cada vez mais ricos e diversificados. Este processo de acrescentamento e de enriquecimento da finalidade culmina com o ser humano, o único ser vivo mais rica e activamente finalista, portanto, o único capaz de inventar fins. Ora, dado que o fim é igual ao valor, o homem, fim supremo da natureza, é também o valor supremo. Este valor supremo da humanidade não depende do próprio homem, como sucede nos humanismos, mas é imposto pela própria natureza, ou seja, tem o seu fundamento na natureza.

3. A humanidade deve respeitar este valor que é o seu próprio valor, portanto, deve respeitar-se a si mesma e a própria natureza que a engendrou. Ora, dado ser um ser criador de fins, o homem pode e deve exercer a sua liberdade e a sua criatividade finalistas, mas respeitando sempre a natureza e a sua própria natureza. Não pode interferir ou intervir irresponsavelmente na ordem natural, de resto sagrada, e só pode exercer a sua liberdade criadora no plano simbólico (arte), porque, antes de ser criador, é criatura de Deus ou da Natureza e não pode, sem desencadear uma catástrofe, perturbar a ordem de que faz parte.
Assim, o niilismo e as tecnociências que obedecem ao Imperativo Técnico militam contra este exercício essencialmente simbólico da liberdade humana em conformidade com uma ordem natural, ontológica ou mesmo teológica. Contra este imperativo, e mais além do Imperativo Categórico de Kant, Jonas elabora outro imperativo, fundado na própria natureza das coisas, que enuncia deste modo: «Actua de tal maneira que as consequências da tua acção sejam compatíveis com a permanência de uma vida autenticamente humana na Terra». A acção em questão é tecnocientificamente mediada. Trata-se de proteger a existência e a essência humanas e esta protecção implica a protecção da natureza, porque «uma vida autenticamente humana» está ligada à Terra.
Com este princípio ético ontologicamente fundamentado, Jonas pode elaborar uma "ética face ao futuro", que proíbe secções completas da investigação das tecnociências, em especial no domínio da medicina e da engenharia genética (organismos geneticamente modificados), e que considera que a responsabilidade ética impõe ter em consideração nas nossas decisões quotidianas o bem dos posteriores afectados, aos quais não podemos pedir a sua opinião. Esta "ética do futuro" assenta na evidência antropológica de que «o ser humano é o único ser conhecido por nós que pode assumir responsabilidade», não só pelo valor e pela sobrevivência da humanidade, mas também pela protecção da natureza sem a qual não pode viver.
É evidente que uma tal "ética do futuro" constitui, de certo modo, uma reacção «conservadora» ao optimismo dos humanismos marxistas ou liberais, mas, nesta hora de ofuscamento total em que somos ameaçados por catástrofes que ameaçam o valor e a sobrevivência da humanidade, este mesmo princípio de responsabilidade pode ser repensado e usado para denunciar a falta de responsabilidade que constatamos nas sociedades ocidentais escudadas nos seus poderosos sistemas burocráticos que não permitem responsabilizar ninguém, porque a burocracia é precisamente o «governo de ninguém» (Hannah Arendt) e "ninguém" pode ser responsabilizado, embora possamos conhecer os seus rostos.
Hoje, num programa da SIC Notícias, Miguel Judice disse abertamente que, olhando para os seres que se manifestam nas ruas contra as reformas da educação, exigindo a demissão da Ministra da Educação, Maria de Lurdes Rodrigues, não consegue ver essas criaturas desalmadas como professores, às quais nunca confiaria a educação dos seus netos. Ora, aplicando o Princípio de Responsabilidade aos professores manifestantes, somos forçados a responsabilizá-los pela degradação total do ensino, em especial da escola pública, após o 25 de Abril de 1974, bem como todos aqueles políticos que governaram durante esse período terrível contra o futuro da escola portuguesa e dos seus alunos. Todos eles negaram o futuro aos cidadãos de Portugal e são os únicos responsáveis pela destruição do ensino.
Contra estes professores coveiros do futuro, devemos organizar uma enorme manifestação de apoio às reformas da educação em curso, de modo a mostrar o nosso profundo desprezo pelos professores que se auto-demitiram das suas verdadeiras missões: ensinar e educar os jovens para o exercício de uma cidadania responsável, crítica e participativa. Todo o pensamento filosófico condena a ausência de profundidade destes professores que não assumem as suas próprias responsabilidades.
J Francisco Saraiva de Sousa

28 comentários:

Helena Antunes disse...

Só para dizer que já lhe enviei o convite para a sua nova conta.

Passo cá mais tarde para ler com atenção este post!

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Obrigado Helena. À tarde faço a ligação. :)

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Papillon

Admiro o pensamento de Jonas, porque foi um filósofo que abordou problemas actuais, tais como a filosofia biológica, a filosofia da técnica e a bioética! Isto não significa acordo total, até porque a sua bioética cria muitos entraves à pesquisa biomédica! Mas também desejo mais METAFÍSICA! :))

lp disse...

A consideração intelectual que eu tinha por si tem vindo a descer de post para post, tal é a sua cegueira partidária. A forma como você termina este último post releva, para além do facciosismo que eu já lhe apontei várias vezes, uma grande desonestidade intelectual: de entre tudo aquilo que tanto Barreto como Júdice disseram acerca da educação (mas não só), o que você entendeu ser relevante e merecedor de destaque foi a opinião do Júdice acerca dos professores. A opinião de um endinheirado que se está nas tintas para a escola pública, e que recentemente foi acusado de ter beneficiado de favores estatais (de ser um corrupto, ao fim ao cabo), para além de ter classificado o novo bastonário da Ordem dos Advogados como «um gordo», «um Mussolini» e «um populista». É, de facto, um exemplo de boa educação, que contrasta com as atitudes e reacções dos professores. Professores que, ao contrário do que entendem estes defensores de um moralismo reaccionário e hipócrita, têm todo o direito de serem elas próprias fora da escola e em manifestação. Mas estes PSs (e os Judices) acham que não e andam muito «preocupados» com o «bom nome» dos «professorzecos» (depois de se terem ocupado em o denegrir), e por isso parece estarem apostados em recuperar morais e tradições autoritárias salazaristas, como a que proibia, por exemplo, que as enfermeiras se casassem – a sua função devia ser a dedicação exclusiva aos doentes, como a dos professores parece dever ser a de serem o modelo da obediência à autoridade (tanto dentro como fora das escolas).
A verdade é que a sua obsessão com os professores é tão grande, tão grande, que acaba por ser suspeita. Dirá você que o que o move é o combate contra a mediocridade – que esta, sim, é que é a sua obsessão. Pois, meu caro, mas esta mediocridade eu consigo encontrá-la neste seu tipo de análises, apenas interessadas em atacar uma classe profissional e em fazer o jogo do seu partido – e que eu me recuso a chamar de socialista.
Recuso-me eu e devia recusar-se também você, até para depois poder reclamar que é uma pessoa responsável e honesta (ao contrário dos professorzecos). É que se você viu o programa todo deve ter reparado também naquilo que o Júdice (um convertido e apoiante desta nova «esquerda» socrática) afirmou acerca do PS. Eu lembro-lhe: disse ele, a certa altura, que os dirigentes (ou barões) do PSD estão satisfeitos com o governo de Sócrates, e que desejam que ele continue. Por que será? Talvez porque, como disse o Barreto, este governo não esteja a governar para o seu eleitorado tradicional, nem à esquerda, mas se sirva dos votos desse eleitorado para governar à direita. Puro maquiavelismo... O que surpreende nestes desabafos não é eles serem alguma novidade, mas tão só o à vontade com que eles reconhecem isso. Reconheça, por isso, você, também, que a sua nova «esquerda» é um embuste: é a, desde sempre, direita. Porque este é, por incrível que possa parecer (aos ingénuos), o governo mais à direita que Portugal já teve.
Depois, meu caro, aquilo que você considera que foi a «destruição» da escola pública depois do 25 de Abril tem outro nome: foi a massificação do ensino. A menos que você tenha o «privilégio» de vir de «boas» famílias, sem essa massificação você poderia ser mais um dos excluídos dessa excelente escola. Se alguém está a destruir a escola pública é este governo, ao fazer aquilo que você não quer reconhecer, e que é o desvio dos professores da sua função que é ensinar, para funções burocráticas (como reconheceu o Barreto) e de produção de números para apresentar à União Europeia. Típico num governo todo ele tecnocrático e sem qualquer preocupação com a real formação e ensino das pessoas.
Mas se você quer responsabilizar governantes anteriores siga o conselho do Valter Lemos, como eu já lhe disse. Vá pedir contas ao ex-Ministro da Educação Santos Silva, assim como ao querido líder Sócrates, que também fazia parte desse governo. Aproveite o grande comício (!) que a União Nacional (perdão, o PS) vai organizar no Porto (para tentar abafar a contestação dos professores), e siga o «mau» exemplo dos professores «medíocres» e «arruaceiros»: grite bem alto que despreza os professores.
Faça-o porque a manifestação dos professores é, realmente, um exemplo a seguir da verdadeira cidadania responsável (porque em defesa da escola pública), critica (porque se opõe ao autoritarismo e à prepotência deste governo), e participativa (porque é espontânea, livre e contra a resignação). Só que o mesmo já não se poderá dizer da manifestação ou comício em que você vai participar, que será mais um espectáculo de propaganda feito para as televisões, e onde se poderão encontrar velhinhos a quem é paga uma excursão ao Porto. Um comício onde o que estará em causa não é a responsabilidade, mas a satisfação de interesses partidários; não é qualquer criticismo, mas a submissão às ordens do partido; e não é a participação, mas a encenação teatral numa sessão de propaganda. Isto, sim, é mediocridade. Isto, sim, é corrupção. Isto, sim, merece ser desprezado.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

lp

Penso que não acredita nestas suas palavras: "Faça-o porque a manifestação dos professores é, realmente, um exemplo a seguir da verdadeira cidadania responsável (porque em defesa da escola pública), critica (porque se opõe ao autoritarismo e à prepotência deste governo), e participativa (porque é espontânea, livre e contra a resignação."
As manifestações dos professores não são "autênticas" e, se escutar as declarações de alguns entrevistados, fica perplexo: carecem de conteúdo e de espírito crítico! Estas manifestações são manipuladas pelo sindicato e pelo PCP, nenhum dos quais está interessado na mudança social qualitativa por temer a perda de influência. Quanto mais ignorantes, melhor!: eis o lema salazarista destas forças sociais e políticas! Não é por essa via que Portugal vai ao encontro do Futuro!
Citei Júdice porque ele disse aquilo que todos nós pensamos quando olhamos para esses professores manifestantes e os escutamos! Defendo a Competência e o Mérito!
Estudei num Colégio particular, mas, quando tive direito à escolha, mudei para uma Escola Pública! Em termos de qualidade, fui prejudicado: valeu 2 ou 3 bons professores! Daí a necessidade de avaliação dos professores, muitos dos quais submetidos a um exame escrito chumbavam, como deve saber! O ensino está destruído em Portugal! Os professores não defendem a qualidade do ensino, mas os seus interesses corporativistas, porque, se fossem competentes, nunca teriam sido caçados na armadilha da "burocracia" mal interpretada!
Como vê, tenho as "mãos limpas" e sou livre! Quero mudanças e reformas profundas! Barreto não significa nada, como mostrou ontem: mais outra ausência de ideias!

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

BlueGift

Não foi engolido! :)
Concordo absolutamente com a sua perspective! Os professores não querem entender, porque não confiam nas suas próprias competências! Não vejo outra "explicação"! Todos somos avaliados e, por vezes, não podemos "piar", mas eles querem ser o "caixote do lixo"!
O Jonas é um pouco conservador mas podemos dar-lhe a volta! Ele também era "democrata"...

lp disse...

Meu caro, actualize-se: essa de que as manifestações dos professores são manipuladas pelo PCP já não cola. E tanto não cola que o querido líder, de tão assustado que anda, decidiu organizar o tal comício onde você vai estar presente. A manipulação a existir foi feita, precisamente, por quem andou a dizer que quem andava a protestar eram os comunistas e «pessoas de outros partidos», que o querido líder disse conhecer muito bem.
Os professores se submetidos a um teste chumbavam?! Se calhar até chumbavam e vão chumbar, pois como se sabe este Ministério da Educação pretende submeter grande parte dos contratados (na sua maioria desempregados!) a três testes cuja nota não pode ser inferior a 14 valores (nos três!). E dizem eles que querem escolher os melhores professores! Mais um mentira, porque se quisessem apenas escolher (e não eliminar) seleccionariam aqueles que tivessem as melhores classificações. O objectivo é uma vez mais estatístico, pretendendo-se com essas provas mascarar o desemprego dos professores, pois se a maioria dos professores licenciados concluíram o seu curso com médias de 13, 14 ou 15 valores, a probabilidade de terem menos de 14 nalguma das provas é bastante grande. E isto é por em causa o ensino e formação dados pelas Faculdades de Letras e Ciências.
Você citou Júdice porque ele pensa como você, e não porque «todos» pensamos como ele. E o que é relevante nisto é o que eu já lhe disse: a permanente convergência das suas posições e ideias com quem está mais situado à direita. Está no seu direito; não diga é que é de esquerda, ou, pior, socialista. Porque isso é uma impostura.
Finalmente, você não está à espera que todos os professores sejam excelentes, pois não? Em todas as profissões há profissionais bons, medianos e maus. Você é que tem a mania que todos os professores são medíocres. E se é assim para que serve qualquer avaliação? Para distinguir os mais medíocres dos menos medíocres?! O que me parece é que o que você quer mesmo é ver os professores serem humilhados e insultados na praça pública, porque sim... Mas claro que é preciso uma avaliação (e a quase totalidade dos professores reconhece isso), mas não esta, que só vai burocratizar o ensino e tirar tempo para aquilo que devia ser fundamental. A sua cegueira partidária é que não o deixa ver isso.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

lp

Penso que deve ter visto o último "Prós e Contras" e escutado outros cidadãos! Sim, eles não admiram estes professores e também sabem que o problema tb reside nas faculdades! Também tenho criticado o ensino universitário, sobretudo o privado.
Sim, sou de esquerda e socialista. Mas, tal como os mestres, não defendo um Estado que sacrifique todos os cidadãos, para garantir a vida a professores que não cumprem a sua missão educativa! Porque o que reivindicam é a continuação da ausência de educação! Dizem que não são contra a avaliação, mas nunca apresentaram uma proposta. Só se lembram do SOCIALISMO quando pretendem garantir privilégios adquiridos profundamente injustos e sem serem avaliados! Isso não é ser de esquerda: é ser Oportunista! Tal como as forças que apoiam estas manifestações! Pensamento Gordo! O povo que se lixe!

E. A. disse...

Jonas tenta compatibilizar a teoria aristotélica das causas finais na natureza com o evolucionismo? Algo por si só extraordinário. Aristóteles dizia na Física que o acidente dá a ver o disforme, Darwin diz que qualquer mudança surge espontaneamente, ou seja, sem causa. Logo, será a razão uma dismorfia?
Os argumentos que apelam à natureza são sempre dúbios, porque: se o ser humano é o fim derradeiro, por ser o mais sofisticado, por ter consciência e razão, não será contra-natura ("porque o valor supremo depende da própria natureza") privar-se da tecnologia que é a mesma coisa que: prescindir de um uso pleno da razão humana?
Além disso, é errado essa ideia da "permanência"; o ser humano n quer apenas "sobreviver" e prolongar-se no futuro. Isso é uma hipoteca de sentido. Lá está: "ética de futuro". N acho que supere o imperativo categórico kantiano, que prevê alguns dos problemas bioéticos.

Quanto à ligação deste princípio à burocracia e à crise no ensino, n a entendo. Quero dizer: entendo a evocação de responsabilidades face à dispersão burocrática, mas n entendo porque este princípio em específico traria algum valor à explanação e solução do problema.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Papillon

A filosofia de Jonas é mais complexa e, mediante a sua ética e o direito, podemos imputar responsabilidade. A burocracia não implica responsabilidade, porque é o governo de ninguém. Essa burocracia tb está na escola. Mas há outra via: os professores não zelam pelo futuro dos jovens, porque se demitiram dessa função, convertendo-se em escriturários que só pensam na reforma, na carreira garantida e automática, nas férias, etc. E os alunos? Trata-se de abrir o futuro...

Manuel Rocha disse...

Peço desculpa por me intrometer na conversa, mas confesso sérias dificuldades em compreender um ponto a que LP alude e que já vi defendido noutros areópagos: a questão dos “exames” aos professores.

Estou errado ou o objectivo é o ingresso dos ditos na função pública ?

Se o critério de prova idêntica para todos é injusta, é justa a consideração em igualdade de circunstâncias de notas atribuídas em contextos diversos ( de formação académica dos professores )? Ainda ontem um professor que tem mestrado em física queixava-se-me de que iria ser avaliado por uma colega formada numa ESE ás quais, como se sabe, os professores licenciados noutras instituições não reconhecem mérito comparativo. Então ficamos em quê ?

Se se reconhece que afinal levar em conta apenas a nota da formação também não é justo, que critérios de admissão à carreira se sugerem?

Se o problema está na nota 14, qual seria a nota ideal ? 13, …., 10, 9, …? Voltamos ao sistema em que acedia a cursos universitários de engenharia com 6 a matemática ?!

Se para qualquer emprego eu tenho que sujeitar o meu CV ao escrutínio do empregador, a quem ninguém questiona a legitimidade na definição dos seus critérios, porque não se reconhece ao Estado idêntica prerrogativa, quando ainda por cima estamos perante a perspectiva de um contrato de trabalho vitalício ?

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Manuel

Também penso como a BlueGift, tal como se exprimiu no comentário feito aqui.

Manuel Rocha disse...

Sobre a avaliação.

Humilhação ?!

Não me parece. Mas tenho uma questão. Digamos que tenho alguma proximidade com acções de formação de professores pagas pelo ME. Por que razão não consigo ter registo de uma só acção dessas que tenha inicio à hora marcada ? Por que será que NUNCA se vê um professor tomando notas da temática abordada ? Como se justificam as saidas antes da hora ? Com o carro à oficina, a filha ao dentista, a sogra às compras ?
Se as acções são frequentadas porque contam para a progressão na carreira, porque é que os resultados da sua frequência não devem ser avaliados ?

O caso, caro LP, é que a classe a que o senhor pertence e que eu respeito, deixou-se, à semelhança de muitas outras, inquinar por maus hábitos de rotinas inadmissiveis e sem consequências para os seus autores.

Têm as vossas razões ? Sim, sem dúvida. Mas há vários sistemas que urge reformar independentemente dos interesses particulares de alguns dos afectados. E a escola é um deles !

Manuel Rocha disse...

Sobre o texto, Francisco:

Interessantes as ideias de Jonas. Mas prefiro a linha de raciocinio que usa aos pressupostos em que se apoia. Aquele ponto 2 então merece-me várias reservas...:))

E. A. disse...

Sim, mas "tratar o próximo como um fim em si mesmo e nunca como um meio" já abre futuro. Não é preciso pressupor um princípio de ordem natural ou metafísico!

E depois n entendo a pertinência desses exames, como critério para um professor ser designado como tal. Um professor é ambivalente, não é somente um contentor e transmissor de conhecimentos.... O problema é complexo e a mediocridade que acusa o F. precisa de ser melhor desenhada, para ser efectivamente superada. E n é decerto, com contra-manifestações nem com guerras declaradas que poder-se-á sanar.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Já deviamos estar a ganhar, mas vamos "comer" os alemães! Viva o FCPorto!

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Papillon, Manuel e BlueGift

Jonas tem a vantagem de contornar o problema ético da natureza, que não pode falar conosco e defender a sua perspectiva, «forçando-nos» a assumir a responsabilidade. Como seres responsáveis, somos responsáveis não só pela humanidade mas também pela natureza. Contudo, reconheço, devemos repensar certos conceitos, até porque não abdico de Bloch.
Sim, Kant na "Crítica do Juízo" tem uma filosofia da natureza, mas desenvolvida no âmbito da filosofia (idealista) da consciência.
Blue, os professores são, no geral, seres muito "egoístas". Não sei onde vão buscar essa pretensão, porque não têm boa imagem em Portugal!
(Bem, vou retomar o jogo: ainda estamos empatados! O dinheiro fazia jeito...) :)))

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Estou triste! :(

Manuel Rocha disse...

Uai !
O Puerto perdeu, carago ?!

Veja lá não se "vingue" nos professores...:))

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Vencemos o jogo mas não passamos... o guarda-redes deles acordou com o cu pra lua! Dominamos, rematamos e ele defendia. É o que faz ser menos alto que aquelas towers! :)

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Mas numa competição entre professores estávamos logo à partida eliminados! E logo com os alemães! Mas suspeito que os ilustres luso-professores fizessem uma manifestação contra a competição! Afinal, eles "são professores garantidos"... :(

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

BlueGift

Bons factos mas eles já não sabem o que são factos! Todos os países da União Europeia nos passam à frente e como já estão à frente. A Irlanda, por exemplo. Os tugas não querem mudar nada: falam, falam, mas quando chega a hora pensam no seu bolso ou simplesmente não pensam! :)

lp disse...

«A prova de avaliação de conhecimentos e competências destina-se a quem, sendo detentor de uma habilitação profissional para a docência, pretenda candidatar-se ao exercício de funções docentes»



Como este artigo do Decreto regulamentar n.º 3/2008 mostra, as provas a que irão ser submetidos os professores contratados não vão ser realizadas para determinar quem pode ingressar na carreira ou efectivar. A prova é para ser feita por quem é profissionalizado e pretende dar aulas. Mas só a vai fazer, como acrescenta outro artigo, quem tiver menos de 5 anos de serviço. Todos os outros estão dispensados, desde que tenham tido a classificação de «Bom» nas suas avaliações de desempenho anteriores - o curioso nisto é que quem determinou estas regras foram as mesmas criaturas que afirmam que os professores não eram avaliados. O cinismo e a mentira são grandes...
Portanto as provas só vão ser realizadas por quem está desempregado e por quem, não estando, só consegue arranjar contratos temporários e com horários incompletos.
Dito isto o que se pretende com mais esta farsa e mentira? O que eu já disse: não fazer qualquer selecção dos melhores professores (até porque não é numa espécie de PGA que se verifica isso), mas sim excluir da docência a quase totalidade daqueles que tendo formação para exercer essa profissão estão desempregados. Quanto aos que forem aprovados, continuarão desempregados e poderão concorrer aos tais contratos temporários, de horários mínimos e mal remunerados. A classificação de 14 valores não é inocente e o objectivo da prova é, pois, apenas um: mascarar as estatísticas do desemprego dos professores. Mas os inocentes e facilmente manipuláveis acreditam que se pretende melhorar o ensino.
E não... não sou professor, ainda que tenha as habilitações necessárias para o ser. Sei, portanto, muito bem o que está em causa e o que se pretende com estas ditas «reformas», e consigo reconhecer que a explosão e o mal-estar que se verifica entre os professores, mais do que estar relacionado com questões económicas (que também está, como é óbvio e legítimo), tem que ver com a degradação e a secundarização das suas funções essenciais. È que a degradação económica da profissão não começou agora, mas já a degradação das funções educativas começou a tornar-se evidente agora. Só os cegos que não querem ver e os maquiavélicos que são movidos pelo ódio a uma classe profissional é que não reconhecem isso.Talvez o consigam reconhecer daqui a uns anos quando houver falta de professores, como já acontece na Inglaterra que impôs um modelo semelhante.


PS: Francisco, você continua a dar mostras da sua desonestidade intelectual. No último «prós e contras» o que eu vi foi os convidados dizerem que é necessária a avaliação, mas que esta devia ser primeiro experimentada e desburocratizada. Ouvi dizerem que devia existir o diálogo que este governo sempre recusou. O que eu vi, também, foi a postura facciosa e pouco imparcial (mas já habitual) da «moderadora», que procurou que os convidados mostrassem estar de acordo com as intenções da Ministra, pondo-lhes palavras na boca e fazendo «sínteses» despropositadas e forçadas, mas mais ou menos convenientes para o Ministério da Educação. O que eu vi foi a tentativa de fazer um programa de propaganda em favor deste Ministério, mas que não correu da melhor forma para essa mesma propaganda. Então os recados do Ministério da Educação dados por altura do intervalo mostram como a forma de agir deste governantes é simplesmente vergonhosa.
Quanto aos professores não terem boa imagem, se não a têm isso deve-se muito à campanha de insultos promovida por este governo. Porque o que uma sondagem recente revelou é que os profissionais em quem os portugueses mais confiam são os professores, e os que menos confiam são... os políticos. É natural... Quem mente às pessoas, costuma perder a sua confiança.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

lp

Acho muito estranho que, não sendo professor, como diz, andar a fazer campanha em prol dos professores manifestantes! Só podemos inferir que está comprometido com alguma força política de oposição ao governo que usa os professores para impor o seu esquema.
Ainda não li o que propõe para avaliar os professores! Ou quer que tudo fique eternamente igual a si mesmo? Mas nesse caso a sua "esquerda" é "ultra-conservadora" ou "saudosista"!
Para nós, trata-se de melhorar as coisas, mudar, reformar...

lp disse...

Meu caro, as suas conclusões são como as suas generalizações: apressadas e falaciosas.
Eu não ando a fazer qualquer campanha, ao contrário de si. E como disse não sou professor, mas podia ser, e podendo sê-lo tenho presente o que devem ser os valores e a ética de quem se dedica a esta profissão, mas que estas pseudo-reformas vêm por em causa.
Agora, o que me repugna é a desonestidade intelectual, a manipulação e a impostura, reflectidas na novilingua da nova «esquerda» e dos novos «socialistas». Contra isto farei sempre campanha. O mesmo não se pode dizer de quem é movido por certos interesses partidários. A campanha destes é outra, como já se percebeu... Como qualquer maquiavélico segue a máxima de que os «fins justificam os meios». Ou seja, os fins económicos e estatisticos, justificam a estratégia de destruição da escola pública e das funções essenciais dos professores.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

lp

Sinto que tem muito ódio ao partido socialista..., mas é este partido que lutou pela liberdade e pela justiça social, não foi o PCP ou BE. Ainda não se apercebeu que a experiência comunista, além de ter sido violenta, foi um fracasso total? De facto, os professores não querem nada com o comunismo.
Desonestidade intelectual é não reconhecer esse fiasco e usar a democracia para tentar regressar às trevas comunistas e à miséria total!

lp disse...

Pois sente mal... Mas também eu sinto que você tem um ódio aos professores e que sofre de uma cegueira em relação ao partido dito socialista. São directamente proporcionais: quanto maiores são a sua cegueira e os seus interesses partidários, maior é a sua campanha e ódio contra determinados profissionais. E diz você que é livre? Livre como as ovelhas...
E digo «dito» porque não tenho quaquer ódio a esse partido, mas repugna-me (como a muitos militantes do partido socialista, como você deve saber) a descaracterização politica e ideológica que esse partido está a sofrer às mãos de oportunistas como o Sócrates e da sua equipa de tecnocratas sem principios ideológicos.
Meu caro, eu não estou ligado a qualquer partido, ao contrário de si. Mas tenho principios ideológicos, coisa irrelevante para os pragmáticos e filhos de Maquiavel.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Todos os mestres de esquerda são gratos a Maquiavel, a começar por Marx. Maquiavel era inteligente e, de certo modo, antecipa a teoria da ideologia, mas, ao contrário de alguns esquerdistas saudosistas, não era a favor de "ditaduras" e de voluntarismo político. Faz parte integrante da Filosofia Política! Mas parece ter reduzido Maquiavel a um chavão, aliás pouco meditado! Esqueceu-se daquele Maquiavel que escreveu a "República"...
A Velha Esquerda Tirana e Ditatorial não deseja a mudança: é movida por um ódio invejoso. Por isso, alia-se facilmente ao PSD ou à Direita! Sonha com o Poder, embora o seu Objectivo secreto seja a destruição do poder, do poder da palavra: a DEMOCRACIA!